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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Desempregada com a crise, brasileira volta à prostituição na Espanha

A crise econômica obrigou a brasileira Elsa (nome fictício), de 28 anos, a retomar uma atividade que a fez viver "o inferno nesta terra": a prostituição.




Após trocar Goiânia por Madri, livrar-se de uma quadrilha de cafetões e conseguir trabalho de manicure, a falta de dinheiro a levou a um beco com poucas saídas e ela acabou voltando a se prostituir.



"Não foi escolha, foi sobrevivência", desabafa.



Imigrante ilegal na Europa, ela chegou à Espanha em 2005 com a ajuda de uma quadrilha sabendo que iria exercer a prostituição.



O que não sabia era que estaria em regime de semi-escravidão, vigiada 24 horas ao dia e com ameaças de morte.



Fuga Em 2007, ela fugiu com a ajuda de um cliente e recebeu ajuda psicológica na ONG Apramp (Associação para Prevenção, Reinserção e Atenção à Mulher Prostituída), que a ajudou a encontrar um trabalho como manicure e cabeleireira em um salão.



Mas em fevereiro o sonho da reabilitação acabou. "O salão fechou. Eu, sem documentação, não tinha muita chance de trabalhar. Fiz o que pude, mas sem licença de trabalho, acabei voltando à prostituição", disse à BBC Brasil.



Elsa se emociona ao contar por que tomou uma decisão que ela define como "um passo de caranguejo".



"Não vou mentir e fingir que virei santa, porque quando aceitei vir para cá, já sabia o que tinha pela frente. Vivi o inferno nesta terra", diz.



"No começo, fiquei 15 dias sem trabalhar (para a quadrilha) porque só chorava e pedia para voltar para o Brasil. Nenhum cliente queria ir comigo por isso. Aí ameaçaram me matar e matar a minha família. Foi tão horrível que depois daquilo perdi o medo, a dignidade, perdi tudo", relata.



Depois de largar a prostituição, sobre a qual a família em Goiânia nunca ficou sabendo, Elsa achava que tinha fechado um capítulo em sua vida, até ser surpreendida pela crise.



Sonho Para ela, os 950 euros (cerca de R$ 2.500) mensais por doze horas de trabalho, seis dias por semana, num salão modesto da capital espanhola, valiam mais a pena do que o salário mínimo que recebia no Brasil.



"Todo imigrante vem com o sonho de ter uma casa, um carro, ajudar os pais... Voltar sem ter conseguido nada é duro também para a família que ficou lá esperando muitas coisas", justificou.



Elsa, que pertence a uma família de evangélicos, e não esteve no Brasil desde que imigrou, sonha com o retorno quando puder ter recursos financeiros para comprar um imóvel e ajudar o pai a ter seu próprio negócio.



Prostituindo-se numa casa em um bairro nobre de Madri com outras onze mulheres imigrantes, ela consegue em torno de 700 euros (aproximadamente R$ 1.850) por semana.



Poderia ganhar mais trabalhando por conta própria nas ruas, mas tem medo das batidas policiais ordenadas pelo governo municipal, que considera a prostituição um "ataque à dignidade da mulher", como descreveu à BBC Brasil a diretora geral de Igualdade da Prefeitura de Madri, Asunción Miúra.



Deportação A lei espanhola permite a prática da prostituição, mas criminaliza a exploração de mulheres e a estadia de imigrantes ilegais. Por isso, se fosse pega na rua, a deportação de Elsa seria imediata.



"Uma política repressiva, absurda e ridícula", disse à BBC Brasil Cristina Garaizábal, diretora da ONG Hetaira, que defende os direitos das prostitutas e afirma que apenas 5% das mulheres que praticam a prostituição na Espanha estão controladas por máfias.



Para a ONG, mulheres como Elsa estariam em melhores condições se pudessem ter garantias trabalhistas.



"Ela agora poderia estar recebendo seguro desemprego em lugar de ter de voltar à prostituição se não quisesse", afirmou Garaizábal.



Para a brasileira, o sonho da carteira assinada é uma utopia. A maior preocupação é ficar marcada para sempre por ter escolhido uma forma de ganhar a vida.



"O pior nem é o sexo. O pior agora é a sensação de fracasso, sabe? Eu sei que vou sair disso, mas essa mancha nunca vai desaparecer da minha vida. Espero ganhar o suficiente para voltar para o Brasil, começar uma vida nova, mas sei que isso não vai dar para apagar", observa.

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